Em 1986, época em que li As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Uma publicação de dois volumes. A capa dura, vermelho carmim e com letras douradas, já parecia anunciar a magia contida ali. Eles me foram emprestados por uma amiga que me incentivou a leitura. Realmente, uma história literalmente encantadora. Depois vieram as adaptações cinematográficas e, tanto os livros quanto os filmes, fizeram enorme sucesso. Mas confesso: nenhuma imagem na tela conseguiu capturar o mistério denso daquelas páginas envoltas em bruma.
Querem saber se devolvi os livros? Sim, devolvi à legítima dona. Isso tenho comigo: cuidar e retornar, em perfeito estado, tudo o que me é emprestado.
E você? Costuma devolver os livros que pega emprestado? Ou há por aí alguma Avalon esquecida na sua estante?
Um Chamado Literário
Há histórias que não apenas encantam, elas nos chamam. E eu me deixei levar.
As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, é uma dessas obras que nos envolvem como um feitiço. Um portal literário que se abre para um mundo onde a fé antiga e a nova convivem, duelam e se entrelaçam, formando uma tapeçaria de mistério, sacrifício e esperança.
Nesta primeira etapa da saga, revisitamos a lenda do Rei Arthur pelo olhar das sacerdotisas de Avalon, especialmente Morgana. A ilha mágica, oculta nas brumas, simboliza a tradição ancestral, em contraste com a ascensão do cristianismo no território bretão.
Resumo da Obra
Morgana cresce entre dois mundos: o da Deusa e o do Deus cristão. Ao longo da narrativa, ela e os demais personagens vivem ciclos contínuos de perda e renascimento. Amores se desfazem, coroações surgem em meio a traições, e valores antigos precisam ser ocultados ou reinterpretados para sobreviver.
A bruma que separa Avalon do mundo dos homens é também metáfora do invisível, aquilo que só se revela aos que têm fé.
Você já se sentiu diante de uma "bruma" em sua vida? Algo que exigia mais do coração do que da razão?
Citações que Marcam
“O que a maioria das pessoas vê é o que elas esperam ver. As Brumas não escondem Avalon. Elas protegem Avalon daqueles que não estão prontos para encontrá-la.”
“Toda a vida é uma roda, e se esperarmos o tempo suficiente, ela sempre girará até nós novamente.”
“O antigo modo de ser ainda vive, sussurrando nas pedras, nos rios, no sopro do vento.”
Qual dessas frases te chamou mais atenção? Por quê?
Curiosidades Literárias
Marion Zimmer Bradley baseou-se em estudos antropológicos e mitológicos para construir a visão da Deusa em Avalon, inspirando-se nas tradições celtas e nas religiões matriarcais pré-cristãs.
Quando foi publicado, em 1983, As Brumas de Avalon representou uma revolução na literatura arturiana: raramente as mulheres eram protagonistas desse universo.
O livro é dividido em quatro partes, representando os estágios do ciclo natural: nascimento, crescimento, morte e renascimento.
Você já tinha percebido essa estrutura cíclica na narrativa? Que parte do ciclo mais dialoga com o seu momento atual?
A Páscoa e Avalon: Um Elo Invisível
Assim como a narrativa cristã da Páscoa, As Brumas de Avalon trata de:
Morte: a perda do mundo conhecido, a queda de Avalon, as separações dolorosas;
Ressurreição: a fé de que Avalon ainda existe, mesmo quando invisível;
Esperança: a certeza de que tradições verdadeiras não desaparecem, apenas se ocultam até serem chamadas novamente.
Enquanto, na Páscoa, o véu do templo se rasga para revelar um novo caminho, nas brumas de Avalon o véu permanece... mas convida à busca. À confiança em algo que os olhos não veem, apenas o coração.
Como Avalon, a esperança pascal habita o invisível.
Quantas brumas precisamos atravessar para alcançar nosso próprio renascimento?
Reflexão Final
Em cada ciclo que vivemos, pessoal ou coletivo, há algo de Avalon. O que parece perdido não se foi de verdade: apenas aguarda que tenhamos olhos de fé para reencontrá-lo.
Neste tempo de Páscoa, que possamos atravessar nossas próprias brumas e renascer em novas margens.
Quantas brumas você já atravessou na vida?
E em qual margem você se encontra agora?