Cecília Meireles foi uma das mais notáveis escritoras brasileiras, construindo uma obra marcada pela musicalidade, reflexão existencial e uma sensibilidade única. Poeta, jornalista e educadora, ela abriu caminho em um cenário literário dominado por homens e consolidou-se como uma das grandes vozes da poesia brasileira do século XX.
Nascida no Rio de Janeiro, em 1901, perdeu os pais ainda na infância e criada pela avó materna. Desde cedo, encontrou refúgio nos livros e desenvolveu um olhar aguçado sobre a vida e o tempo. Sua obra reflete essa busca constante pelo sentido da existência, o efêmero da vida e a beleza da melancolia.
A Poesia Como Caminho
Aos 18 anos, em 1919, publicou seu primeiro livro de poesias, “Espectros”.
Cecília transitou entre diferentes influências literárias. Sua poesia é frequentemente associada ao simbolismo e ao modernismo, mas é possível notar uma identidade própria que transcende movimentos literários. Suas palavras dançam entre a suavidade e a profundidade, criando imagens que ecoam na mente do leitor.
Em “Viagem”, de 1939, seu livro mais celebrado, Cecília mergulha em temas como a passagem do tempo, a solidão e o destino. É uma obra que reflete sua alma inquieta, sua percepção aguçada da efemeridade da vida.
Já em “Romanceiro da Inconfidência”, de 1953, Cecília expande sua poesia para um diálogo histórico, recontando a Inconfidência Mineira com uma linguagem lírica que resgata memórias e constrói imagens poderosas do passado brasileiro.
Educação e Literatura Infantil
Além da poesia, Cecília Meireles foi uma educadora apaixonada pela literatura infantil e teve grande influência na renovação do ensino no Brasil. Seu compromisso com a educação levou à criação da primeira biblioteca infantil do país, além de vários livros voltados para crianças, nos quais uniu lirismo e pedagogia, encantando gerações.
O Legado de Cecília Meireles
Espectros (1919) – Primeiro livro, influenciado pelo Simbolismo; Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923) – Tom nostálgico e intimista; Baladas para El-Rei (1925) – Com elementos históricos e líricos; Viagem (1939) – Marco do Modernismo brasileiro, venceu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras; Vaga Música (1942) – Reflexões sobre a existência; Mar Absoluto e Outros Poemas (1945) – Uma de suas obras mais reconhecidas; Retrato Natural (1949) – Poesia introspectiva e filosófica; Romanceiro da Inconfidência (1953) – Narração poética sobre a Inconfidência Mineira; Metal Rosicler (1960) – Livro mais maduro, explorando temas da memória e do tempo; Solombra (1963) – Síntese de sua trajetória poética; Ou Isto ou Aquilo (1964) – Poesia infantil icônica; Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian (1965) – Poema épico sobre a cidade do Rio de Janeiro e os livros de contos infantis.
Em 1965, após sua morte, recebeu o prêmio Machado de Assis, da ABL. Mas nunca frequentou, em vida, a academia, lugar restrito aos homens.
Poesias Mais Famosas
“Motivo”, do livro “Vaga Música”, de 1942. Nesse poema, a autora reflete sobre a liberdade do ato de escrever, como algo espontâneo e inevitável, sem necessidade de explicações:
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre e nem sou triste: sou poeta.”
“Retrato”, do livro “Viagem”, de 1939. A autora reflete sobre o passar do tempo e a transformação da identidade. Destaco aqui, a última estrofe:
“Eu tinha esse rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio tão amargo.”
Esse poema carrega uma melancolia sutil, abordando as marcas que a vida deixa no corpo e na alma. A progressão do verso sugere uma inevitável mudança e a sensação de que, apesar da passagem do tempo, a essência do ser permanece em conflito com a aparência.
Um dos poemas que mais gosto é a “Canção”, do livro “Viagem”:
“Canção
Pus o meu sonho num navio
E o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
E a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
A noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
Para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, água ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos cruzadas.”
Este poema carrega uma melancolia profunda, tratando do desapego, da perda e da aceitação. A imagem do sonho sendo levado pelo mar e afundando simboliza a transitoriedade da vida e dos desejos humanos.
Cecília Meireles com sua poesia que transcende o tempo, ainda encanta leitores de todas as idades com sua delicadeza e profundidade.
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