Mulheres que Correm com os Lobos, a Autora, a Luta Feminina e as Obras Literárias Brasileiras Como Armas de Libertação
Chá das 17h
Homenagem ao Dia Internacional da Mulher – 08 de março
A data de 8 de março foi escolhida para simbolizar as inúmeras batalhas femininas ao longo da história, lembrando não somente das tragédias no percurso, mas também a resistência e o papel fundamental das mulheres na transformação social. Essa é minha homenagem ao Dia Internacional da Mulher e escolhi o livro Mulheres que Correm com os Lobos para representar a força feminina que existe em nós mulheres!
O Livro:
“Mulheres que Correm com os Lobos” foi lançado em 1992. Chegando ao Brasil em 1994. Mas o universo o colocou em minhas mãos em 2002. Quando li esse livro pela primeira vez, encontrei um eco. Pude enfim, entender questões profundas da natureza feminina. Coisas que passam batidas no dia a dia por serem naturais, mas que quando paramos para nos entender e nos conhecer somos apresentados à uma nova consciência da existência e essência femininas.
A Autora:
Clarissa Pinkola Estés é uma psicanalista junguiana, poeta e escritora, nascida em 1945. Se tornou mundialmente conhecida pelo livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, uma obra que resgata a essência instintiva feminina por meio da análise de contos, mitos e arquétipos ancestrais. O livro explora a ideia da “Mulher Selvagem”, aquela que possui intuição, força e criatividade inatas, mas que muitas vezes são reprimidas pela sociedade. Seu trabalho une psicologia analítica, tradição oral e espiritualidade, oferecendo uma visão poderosa sobre o feminino e a necessidade de reconectar-se com a própria essência.
A autora tem uma vasta trajetória como psicoterapeuta, trabalhando com traumas, mulheres sobreviventes de violência e conflitos emocionais profundos. E como fruto de seu trabalho, afirma que há uma força selvagem dentro de cada mulher. Um instinto ancestral, uma chama que nunca se apaga, mesmo quando tentam silenciá-la.
No livro a autora nos convida a resgatar essa essência primitiva, essa intuição feroz que nos conecta à liberdade e à sobrevivência. Mas essa força não é apenas simbólica – ela se manifestou e continua a se manifestar na luta de milhares de mulheres que desafiaram normas e abriram caminhos para o que somos hoje.
A Luta Feminina:
Desde os primeiros movimentos feministas, as mulheres têm lutado para recuperar sua voz e seu espaço. A batalha pelo direito ao voto, liderada por sufragistas destemidas, não foi apenas uma questão política, mas um chamado à liberdade. Era o grito da mulher selvagem, recusando-se a ser domada. Assim como no livro, onde as histórias de fadas resgatam o arquétipo feminino perdido, a história das mulheres é uma narrativa de resiliência e transformação.
Cada direito conquistado – o acesso à educação, o direito ao trabalho, à escolha e à própria voz – foi pavimentado por mulheres que ousaram desafiar as correntes do seu tempo. A cientista Marie Curie enfrentou o preconceito acadêmico e brilhou na ciência quando descobriu elementos sobre a radioatividade. Ganhando vários prêmios, inclusive dois Nobel, Física e Química, em 1911. Simone de Beauvoir questionou papéis impostos e ajudou a moldar o pensamento feminista moderno. Frida Kahlo transformou dor em arte, recusando-se a ser definida por padrões masculinos. E na literatura, tantas escritoras precisaram esconder sua identidade para serem publicadas. A irmãs Brontë – Charlotte (Jane Eyre), Emily (Morro dos Ventos Uivantes), Anne (A Inquilina de Wildfell Hall) – usaram pseudônimos masculinos (Currer, Ellis e Acton Bell) para que seus romances fossem levados a sério. George Eliot, na verdade Mary Ann Evans, publicou Middlemarch, uma das obras mais respeitadas da literatura inglesa, para escapar dos preconceitos da época.
A própria Colette, nome artístico de Sidonie-Gabrielle Colette, foi uma escritora e jornalista francesa que se destacou pela escrita sensorial e literária. Antes de ganhar reconhecimento, teve parte de seu trabalho, incluindo Claudine à l’école, publicado sob o nome do marido, Henry Gauthier-Villars. Mais tarde, conquistou sua independência e escreveu obras aclamadas com Gigi, que foi adaptada para o cinema e se tornou um clássico.
No entanto, a luta não terminou e está bem longe disso! Muitas mulheres ainda vivem em jaulas invisíveis, aprisionadas por normas culturais, pela desigualdade salarial, pelo medo da violência. Lemos diariamente, notícias que chocam a nossa sociedade por tantos assassinatos cruéis de mulheres brasileiras que não tiveram a menor condição de se defenderem. E nenhuma lei mudou para frear tantos crimes hediondos! Cada vez que tomo conhecimento dessas perdas brutais, para as famílias e para o mundo, me pergunto: será que ainda irei testemunhar uma mudança para melhor na sociedade ou ainda é só o começo do que pode piorar?
O arquétipo da mulher selvagem nos ensina que precisamos continuar resgatando nossa pela perdida, nos reunindo em matilhas, apoiando umas às outras. Como as lobas, somos mais fortes quando estamos juntas.
Neste 8 de março, honremos aquelas que correram antes de nós. Celebremos aquelas que ainda correm. E preparemos o caminho para as que virão. Pois como diz Clarissa Pinkola Estés: “Dentro de toda mulher há uma vida secreta, uma força poderosa cheia de bons instintos, criatividade apaixonada e sabedoria eterna.”
As Obras Brasileiras:
O Brasil tem uma rica tradição de escritoras que lutaram e ainda lutam pelos direitos femininos, misturando literatura e ativismo. Aqui estão algumas que merecem destaque:
Do Passado:
Nísia Floresta (1810-1885) – Considerada a primeira feminista do Brasil, foi pioneira ao escrever Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), inspirado em Mary Wollstonecraft. Defendia a educação feminina e questionava o papel submisso imposto às mulheres.
Bertha Lutz (1894-1976) – Embora seja mais lembrada pelo ativismo político, Bertha também escreveu e discursou sobre os direitos femininos, sendo uma peça-chave na luta pelo direito ao voto das mulheres no Brasil.
Patrícia Galvão – Pagu (1910-1962) – Escritora modernista, jornalista e ativista, Pagu foi presa por suas ideias revolucionárias e feministas. Em Parque Industrial (1933), expôs a exploração das operárias e a desigualdade de gênero no Brasil.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) – Embora não fosse ativista no sentido convencional, sua obra Quarto de Despejo (1960) denunciou a miséria, o machismo e o racismo, dando voz às mulheres negras e periféricas.
Do Presente:
Conceição Evaristo (1946- ) – Uma das mais importantes escritoras contemporâneas, trabalha com o conceito de escrevivência, trazendo relatos sobre a experiência da mulher negra e periférica. Suas obras, como Ponciá Vicêncio (2003), falam de racismo, gênero e classe.
Djamila Ribeiro (1980- ) – Filósofa e escritora, é uma das vozes mais importantes do feminismo negro no Brasil. Seus livros, como O que é Lugar de Fala? (2017), discutem o silenciamento das mulheres negras na sociedade.
Jarid Arraes (1985- ) – Escritora e cordelista, trabalha com temas como feminismo, negritude e direitos humanos. Seu livro Redemoinho em Dia Quente (2019) traz contos que exploram a realidade das mulheres no sertão.
Seja no passado ou no presente, essas mulheres usaram (e usam) a literatura como arma. Você já leu algo delas? Alguma te chama mais atenção para um post no Chá das 17h?
Para nós mulheres, um Dia Internacional da Mulher abençoado!