Hoje é o Dia Mundial do Livro!
E para comemorar, o Chá Secreto de hoje, será aberto a todos os leitores.
Os livros! Esses eternos viajantes do tempo, que atravessam séculos para sussurrar sabedoria, provocar risos, consolar dores e acender ideias. Um viva aos autores, aos leitores e às estantes que guardam mundos inteiros!
"Ler é reconhecer-se nas palavras de outro. Ou se perder nelas."
Ler pode ser uma fuga, um refúgio ou uma expedição rumo ao desconhecido. Mas, em certos momentos, e em certos livros, a leitura se transforma num espelho. Um espelho que não mostra apenas o rosto, mas a alma. E essa é uma experiência que exige coragem.
Na mitologia, Narciso se apaixona pelo próprio reflexo e se consome em sua contemplação. Mas a verdadeira tragédia não está na vaidade, e sim na cegueira: Narciso vê a imagem, mas não compreende o que está diante de si.
O leitor narcísico, de certo modo, corre o mesmo risco. Ele busca nas páginas apenas aquilo que confirma sua identidade. Não lê para se transformar, mas para se reafirmar.
Borges e os Espelhos Infinitos
Jorge Luis Borges transformou espelhos em metáforas recorrentes de suas narrativas. No conto "O Aleph", por exemplo, o personagem enxerga todos os lugares do mundo ao mesmo tempo num único ponto, um microcosmo vertiginoso de tudo o que já existiu e existirá. Ele escreve:
“Vi o Aleph, do ponto do espaço que contém todos os pontos, vi o universo, e vi o universo em mim.”
Essa imagem é o ápice da leitura como espelho: quando o leitor percebe que o livro não é apenas um objeto externo, mas um reflexo interno.
No conto "O Espelho e a Máscara", Borges sugere que, após criar um poema perfeito, tão verdadeiro que revela o “rosto verdadeiro do homem”, o poeta perde o sentido de continuar vivendo. O espelho, ao expor a essência, destrói o véu confortável da ilusão.
A leitura que transforma
A leitura, quando profunda, nos obriga a enxergar o que há de inacabado, contraditório e até doloroso em nós. É por isso que alguns livros nos “escolhem”, aparecem em momentos de transição, de dúvida, de crescimento. Eles não apenas contam histórias: eles revelam a nossa.
O desafio é ler sem buscar a confirmação. É aceitar que o livro pode não concordar conosco.
Que pode doer.
E que, justamente por isso, pode nos curar.
Curiosidades sobre Borges
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899, e ficou cego aos poucos a partir dos anos 1950. A ironia? Quanto menos enxergava, mais vasto se tornava seu universo literário.
Era fascinado por bibliotecas, espelhos, tigres, labirintos e religiões. Misturava erudição com ficção de forma quase alquímica.
Apesar de nunca ter recebido o Nobel, sua obra influenciou gerações de escritores, de Italo Calvino a Umberto Eco.
Em uma entrevista, Borges disse:
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.”
E talvez seja. Mas não uma biblioteca tranquila e ordenada. E sim uma cheia de espelhos, onde cada livro lido devolve a imagem do leitor, às vezes em luz, outras em sombra.
Ler é arriscar-se a ver o que ainda não sabemos sobre nós. É se encontrar, se perder, se recriar. E, como em Borges, entender que os verdadeiros espelhos não devolvem o que somos, mas aquilo que ainda podemos ser.
No Dia Mundial do Livro, lembramos que Miguel de Cervantes e William Shakespeare partiram exatamente nesta data. Coincidência ou sinal de que a literatura é feita de encontros eternos? Entre palavras e páginas, hoje brindamos à imortalidade das histórias.
Qual foi o livro que mudou a sua vida? Aquele que te deixou acordado de madrugada ou que te deu coragem pra mudar? Neste Dia do Livro, quero saber: qual história marcou a sua?